LÚDICO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Por:
Iracema Gonçalves da Silva
A criança se encontra com o mundo de corpo e alma através das
brincadeiras, recebendo elemento importante para a sua vida, desde os mais
insignificantes hábitos, até fatores determinantes da cultura de seu tempo.
Certamente encontraremos professores que utilizam as palavras jogo,
brinquedo e brincadeira como sinônimos. Outros, no entanto, marcam uma
diferença entre elas que remonta à sua própria história de vida.
Há, pelo menos, dois aspectos implicados nessa questão. O primeiro diz
respeito às palavras poderem assumir diferentes significados desde a nossa
infância, bem como ao longo da fase adulta. O segundo aspecto refere-se aos
diferentes significados que uma mesma palavra pode assumir ao longo dos tempos.
Se pegarmos um dicionário de 50 anos atrás certamente a acepção das palavras
jogo, brinquedo e brincadeira estarão impregnadas de uma visão da época. Nos
dias de hoje, observamos que há uma clara brincadeira e brinquedo. No entanto,
tanto jogo e brincadeira, podem ser sinônimos de divertimento.
É claro, porém, que, além das diferenças, esses conceitos também possuem
pontos em comum. Um jogo deles é o de que tanto o jogo quanto a brincadeira são
culturais. É difícil encontrarmos exemplos de um jogo ou uma brincadeira que
sendo originário de uma cultura, tenha sido assimilado por outra.
Segundo FROEBEL,
A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio
e, ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo da vida natural
interna no homem e de todas as coisas. Ela dá alegria, liberdade,
contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo... A criança que
brinca sempre, com determinação auto-ativa, preservando, esquecendo sua fadiga
física, pode certamente tornar-se um homem determinado, capaz de
auto-sacrificio para a promoção do seu bem e de outros... Como sempre
indicamos, o brincar em qualquer tempo não é trivial, é altamente sério e de
profunda significação. (1992, p. 55).
Através das brincadeiras, a criança mostra que é naturalmente dotada de
criatividade, habilidade, imaginação e inteligência. Ela vai compreendendo o
que é ser ela mesma e ao mesmo tempo, pertencer a um grupo social.
Brincar é uma das necessidades básicas de uma criança. Brincando ela
desenvolve seus músculos, sua mente,, sua sensibilidade e sua coordenação
motora.
Brincar é um ato imperioso. A criança cria, a todo o momento,
oportunidades para brincar. Esta é a sua tarefa. Relaciona-se com o mundo dos
objetos e das pessoas brincando. O não brincar é um alerta, pois ele faz parte
do rol de atividades da criança sadia.
Ao brincar a criança descobre e vivencia a realidade de forma prazerosa.
Pode ainda experimentar várias vezes e de diferentes maneiras as situações que
tenta compreender, fazendo, refazendo, trocando de papéis. O brincar lhe
propicia o aprendizado e isto representa que se ensaia em regras sociais que
vão variando em complexidade À medida que cresce.
No ato de brincar ela (a criança), fala às vezes sem utilizar palavras,
expressando de forma autentica aspectos que são mobilizados dentro de si. Esta
é também uma oportunidade onde refugia das pressões exteriores, recebendo a seu
modo e segundo suas condições (cognitivas e afetivas) estas solicitações.
Brincando, no seu faz-de-conta, vive o mundo concretamente e desta forma
faz de verdade, pois confere aos brinquedos sentimentos reais de amor e
agressão.
No entanto quando se pensa em brinquedos parece também existir um lugar
especial para que essa relação entre a criança e o objeto se identifica.
Mas interessante ainda tem sido observar essa integração em espaços
ainda não muito explorados pela brincadeira, e que, no entanto pode, através do
ato de brincar, devolver À criança o estímulo perdido por conta da ausência de
saúde.
Assim, é preciso refletir a respeito da atividade que pode se relacionar
com reforçar um rótulo que a criança já ingeriu. Por isso, o cuidado com as
atividades é de fundamental importância, na busca de melhorar o estado em que
se encontra a criança, tomando sempre o cuidado para, no lugar de uma
perspectiva feliz, não consolidar um trauma, levando-a perceber sua
incapacidade frente a uma brincadeira ou tarefa proposta.
Nem sempre dispomos de espaço para que as atividades aconteçam e isto
não pode se tornar um empecilho na linha de trabalho, pois se nos falta o
espaço adequado, temos a possibilidade de realizar um trabalho de adaptação,
envolvendo a criança para atividades que possam se desenvolver neste local.
O acompanhamento da criança é uma responsabilidade permanente de todos
os adultos que convivem com ela. O seu desenvolvimento depende fortemente de um
ambiente favorecedor, da disponibilidade dos adultos em conversar, brincar com
ela, prestar-lhe, de fato, atenção.
Segundo Sans & Domingues,
Através do lúdico, a criança realiza aprendizagem significativa. Assim,
podemos afirmar que o jogo e a brincadeira propõem à criança um mundo do
tamanho de sua compreensão, no qual ela experimenta várias situações, entre
elas o fazer comidinha, o limpar a casa, o cuidar dos filhos, etc. O ato de
brincar (jogo, brinquedo, brincadeira) proporciona às crianças relacionarem as
coisas umas com as outras, e ao relacioná-las é que elas constroem o
conhecimento. Esse conhecimento é adquirido pela criação de relações e não por
exposição a fatos e conceitos isolados, e é justamente através da atividade
lúdica que a criança o faz.A participação ativa da criança, a natureza lúdica e
prazerosa tem servido de argumento para fornecer dados relevantes no nosso
agir, enquanto educadores.O brinquedo é uma oportunidade para encorajar a
criança a reconhecer as limitações do elemento competitivo.
O ser humano naturalmente já nasce com o espírito para brincar e dá-se
com ardor aos jogos que inventa ou àqueles que aprenderam por tradição, através
de seus companheiros. Porém, esses jogos livres ou de iniciativas das próprias
crianças podem apresentar defeitos que lhe prejudicam o êxito e o valor
educativo, visto que lhes faltam variedades, não sabem descobrir coisas novas e
canalizá-las; falta-lhes estabilidade, borboleteiam sem preservar numa
determinada forma; faltam-lhes organizações e coordenações, perdem-se pela má
direção de um líder natural, falta-lhes acima de tudo o espírito de cooperação
e, por causa dessa pouca qualidade social, provocam brutalidade entre os
meninos e subterfúgio entre as meninas acusando os fracos e louvando os fortes,
os menos capazes não recebem ajuda e cada um joga por si. Assim, esses jogos ou
divertimento, sem orientação de um animador consciente, em vez de educar ou
proporcionar alegria sadia entre as crianças, podem estimular a delinqüência
infantil e juvenil.
Mas os jogos são valiosos não apenas pelo interesse, que universalmente
despertam nas crianças, ou pela alegria que elas experimentam na sua execução.
Trazem, ainda, a grande vantagem de oferecer, aos que deles participam
excelentes oportunidades para o desenvolvimento físico, mental, emocional e
social.
Além disto, cada um de nós tem necessidade de alcançar algum sucesso e.
se dermos apenas jogos que exijam habilidades físicas, estaremos, de antemão,
negando a uma porção de indivíduos a possibilidade de êxito. O mesmo sucederia,
em relação a outras pessoas, num programa em que predominassem as atividades
recreativas de cunho mais intelectual, como os jogos de adivinhação, de
memória, de vocabulário, etc.
Uma criança, que não consegue bons resultados na sala de aula, porque já
vem de casa com problemas de ajustamento e insegurança, é capaz de encontrar os
jogos um bom meio para a satisfação das suas necessidades emocionais.
O pequenino entrega-se ao jogo com naturalidade, exprimindo, através
dele, as suas alegrias e temores, sem restrições artificiais e, no abandono com
que se dá à atividade recreativa, revela alguns dos seus problemas e desejos
mais íntimos, mostrando, também, várias das suas possibilidades.
Os jogos e recreações têm sido reconhecidos com fator essencial de
equilíbrio harmônico à vida do homem e fator vital para o desenvolvimento
integral da criança.
Dessa maneira, entendemos que a recreação é um elemento do lazer, onde
viabiliza a possibilidade de interferir na personalidade do individuo, que pode
agir na realidade de maneira mais equilibrada, mais em conformidade com os
princípios humanos.
Segundo PERRENOUD, Quando as crianças de origem popular que freqüentam
uma sala de aula ativa contam sua jornada na escola, seus pais podem ter a
impressão que os filhos brincam o dia inteiro, que não se exige deles nenhum
esforço, que não se impõe a eles nenhum limite e, portanto, que não aprendem
nada. A escola em que se aprende brincando, em que a aquisição dos
conhecimentos não é sinônimo de sofrimento, de esforço e de competição, é uma
escola que, geralmente, a geração dos pais não conheceu. Para aqueles que não
estão familiarizados com as psicologias da moda, para aqueles cuja experiência
do trabalho escolar e profissional torna pouco crível e mesmo incompreensível a
idéia de que é possível aprender brincando, as novas pedagogias parecem pouco
sérias.sabe-se, em todas as classes sociais, que ela sem dúvida pretende tornar
as crianças mais felizes, fazer com que elas vão à escola sem angustia, com
prazer. (A pedagogia na escola das diferenças, p. 129).
Está se perdendo no tempo a época em que se separava a
"brincadeira", o jogo pedagógico, da atividade "séria".
Hoje a maioria dos pensadores concorda em compreender o jogo como uma atividade
que contem em si mesmo o objetivo de decifrar os enigmas da vida e de construir
um momento de entusiasmo e alegria na aridez da caminhada humana.
O lúdico é uma atividade essencial ao ser humano, onde possibilita ao
educando uma aprendizagem significativa, despertando interesses pelas
atividades individuais e coletivas, proporcionando assim, crescimento
intelectual e a integração de todos participantes.
A descoberta de novas formas de ensinar e aprender é um desafio
extremamente motivador, principalmente no que se refere ao desenvolvimento
cognitivo e emocional dos alunos.
Os trabalhos realizados com os alunos que apresentam deficiência mental
através do lúdico demonstram que podem ajudá-los a desenvolverem habilidades
importantes, para que de maneira independente, possam explorar e exercitar suas
próprias ações, enriquecendo assim, a sua capacidade intelectual e sua
auto-estima.
As crianças com deficiência mental, na grande maioria das vezes, são
vistas como incapazes de obter aprendizagens formais. Por isso em grande parte
o seu tratamento está relacionado às suas dificuldades.
Por serem considerados "sem inteligência", são submetidos a
métodos respectivas cujo método é a automatização.
Segundo D'Antino (1997, p. 102),
Na educação ainda se reflete a ideologia político-social de qualquer
sociedade, há de se tentar compreender a educação especial que hoje temos de
conformidade com a sociedade em que vivemos. Sociedade essa que tende a excluir
as minorias e delas esperar sempre muito pouco. (...) Sabe-se que a idéias de
isolar e segregar está presente em muitos que pensam na educação dos portadores
de deficiência menta, por considerar que sua plena integração social jamais se
consolidará numa sociedade competitiva que preconiza o desempenho, a
produtividade, o vigor, a beleza, etc.
Como relata o referido autor, a integração do individuo com deficiência
dependerá das relações dialéticas com o seu grupo de vivência. É preciso que
haja aceitação da deficiência, pois a deficiência é um aspecto que faz parte de
sua vida, devendo assim ser valorizados e considerados importantes.
Todavia, a integração desses alunos requer uma nova mentalidade sobre
eles, dando-lhes a oportunidade de despertar seu interesse e suas
potencialidades.
Apesar de possuir um ritmo lento de aprendizagem e dificuldades de
abstração é preciso que as propostas pedagógicas sejam adequadas as suas
condições.
O ensino desses alunos deverá partir de atividades concretas, lúdicas,
diversificadas e funcionais, despertando o interesse e a motivação para
aprender. Além disso, deve ser considerado o caráter dispersivo que eles
demonstram, selecionando atividades de curta duração, visando o tempo gradualmente
de acordo com suas possibilidades, buscando sempre a progressão da
aprendizagem.
Um ambiente lúdico potencializa ao máximo o ato de aprender,
oportunizando a construção de conhecimento e exercitando suas potencialidades.
Nesse contexto, as situações lúdicas desafiam a criança e provocam o
funcionamento do pensamento, estimulando-as a alcançarem excelentes níveis de
desempenho, apesar de suas dificuldades. Brincando, a criança aprende fazendo,
sem medo de errar e com pleno interesse pela aquisição do conhecimento.
A criança deficiente mental embora seja capaz de atingir um pensamento
lógico, necessita de um mediador facilitando a sua relação com o outro, baseada
no respeito e reciprocidade. Para que possam observar as condições que mudaram
na situação presente e compara-la com as anteriores.
Portanto, é evidente que esse trabalho se realizará com êxito através de
atividades lúdicas, onde contribuirá para a melhoria do ensino e a formação do
educando.
BRASIL. Secretaria de Educação
Especial Deficiência Mental – Erenice Natália Soares Carvalho. –
Brasília: SEESP, 1997, p. 97.
D'ANTINO, M.E.F. A questão da integração do
aluno com deficiência mental na escola regular. In: MANTOVAN,
M.T.E. A integração de pessoas com deficiência. São Paulo: memom: SENAC, 1997.
PERRENOUD, Philippe. A Pedagogia na Escola das
Diferenças. Fragmentos de uma sociologia do fracasso. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed,
2001.
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