Turma da Mônica possui personagens
com deficiências
Humberto é um dos personagens mais
antigos da Turma e é surdo, comunicando-se com gestos e ‘hum hum hum’
“Baixinha, golducha e
dentuça”. Essas palavrinhas remetem imediatamente a uma menininha de vestidinho
vermelho, dentuça, empunhando um coelhinho azul de pelúcia, encaldido,
correndo atrás de uma série de garotos, principalmente um de cabelo espetado e
roupa verde (ou melhor, velde) e outro todo sujinho para lhes
acertar várias coelhadas. Quem teve sua infância a partir das décadas de 70 e
80 sabe que esses personagens são Mônica, Cebolinha e Cascão, respectivamente,
a famosa Turma da Mônica (clique aqui), criação do jornalista e cartunista Maurício de
Sousa. Uma das maiores referências em literatura infantil do Brasil, as
histórias nasceram em 1959, quando Maurício era repórter policial do jornal
Folha da Manhã (atual Folha de São Paulo), em forma de tirinhas com Franjinha e
seu cachorro Bidu. A partir dos anos 70, começaram a surgir comerciais e
revistas com Mônica e Cebolinha, agora os novos protagonistas. Mônica, a dona
da lua, como diria Cebolinha, foi inspirada na filha de Maurício,
de mesmo nome.
Desde 1970, a série já foi publicada
por diversas editoras, como a Abril (1970-1986), a Globo (1987-2006) e, desde 2007,
vem sendo publicada pela Panini Comics. A primeira edição, em 1970, teve 200
mil exemplares. A Turma da Mônica se transformou em um estrondoso sucesso, com
suas histórias chegando a cerca de 30 países e representando 86% das vendas de
revistas no mercado brasileiro. Vários outros personagens surgiram, como o já
citado Cascão, a comilona Magali, o original Franjinha permaneceu, o também
dentuço Titi e sua namorada Aninha, o negro Jeremias, dentre outros. Maurício
expandiu as histórias, todas conectadas com a Turma original, surgindo assim a
Turma do Chico Bento, que se passa na roça, da adolescente Tina, do Penadinho,
do Bidu, só com animais, do Horacio (supostamente um alter ego do autor), do
Piteco na Idade da Pedra, e várias outras. Surgiu ainda a Turma da Mônica
Jovem, com os personagens adolescentes e não com oito anos. Em 2012, foi
lançada edição especial sobre acessibilidade (faça o download aqui). As histórias saíram das revistas e
ganharam o cinema, os vídeo games, desenhos animados, músicas e emprestaram o
nome para diversos produtos, inclusive alimentícios. Quem não se lembra do
extrato de tomate com o personagem Jotalhão?
Tati (à esq) tem Síndrome de Down e
conversa com Dorinha na escola
As histórias da Turma da Mônica se
passam no fictício Bairro do Limoeiro e falam, acima de qualquer coisa, da
amizade entre os personagens. Apesar das brigas e das provocações que ela sofre
dos meninos, sempre criando planos para derrotá-la, são todos muito amigos e
companheiros. Essas histórias também sempre abordaram temas atuais, com
mensagens educacionais e de respeito ao meio-ambiente e à natureza, além de
campanhas de saúde. Assim sendo, o tema deficiência não poderia ficar de fora.
“Todos nós temos amigos com algum tipo de deficiência e convivemos harmônica e
dinamicamente. Aprendemos as regras da inclusão aí. Consequentemente, não
poderíamos deixar de apresentar amiguinhos da turma que também tivessem algum
tipo de deficiência”, afirmou Maurício. Dentre os personagens originais,
criados na década de 60, já havia um deficiente auditivo, Humberto, que se
comunica com os coleguinhas através de “hum hum hum”, daí seu nome Humberto,
ou por linguagem gestual. Em 2004, surgiram mais dois, Dorinha e Luca.
Dorinha é cega e seu nome foi uma
homenagem à Dorina Nowill, fundadora da Fundação Dorina Nowill (acesse aqui)
que, há mais de 60 anos, atua na inclusão de pessoas com deficiência visual.
Segundo Maurício, a repercussão em torno da personagem foi das melhores.
“Principalmente, quando a Dorinha, como personagem vivo, no antigo Parque da
Mônica, aparecia. Daí era um auê. Todas as crianças se aproximavam dela para
perguntar sobre seus hábitos, como fazia isso, como resolvia aquilo. E nossa
artista que dava vida à Dorinha estava sempre muito bem preparada para falar
como uma deficiente bem resolvida”, contou. Ela possui um cão guia chamado
Radar e usa uma bengala. A personagem é bastante extrovertida, bonita, fashion,
com um corte de cabelo moderno, óculos escuros e logo faz amizade com a
turminha e decide brincar normalmente como qualquer criança, surpreendendo os
amiguinhos através de suas habilidades e sentidos aguçados como o tato, a
audição e o olfato. Seu nome verdadeiro é Doralice Azevedo Lúcia e tem sete
anos.
Histórias do Luca abordam
dificuldades na vida dos cadeirantes e dão dicas de soluções
No mesmo ano de 2004, junta-se à
Turma o personagem Luca. Ele é cadeirante e amante dos esportes, principalmente
basquete. Ele foi apelidado pelos amiguinhos de “Da Roda” ou “Paralaminha”,
pois é muito fã do cantor Herbert Viana e da Banda Paralamas do Sucesso. “Para
criar o Luca, conversei com os atletas paraolímpicos, o que foi, para mim, uma
descoberta e uma alegria. Eles são muito bem resolvidos, também. Entusiasmados,
alegres, espertos, inteligentes, com o moral lá em cima. Foi fácil transpor
esse clima para o personagem, que continua acontecendo muito fortemente nas
nossas histórias, a ponto de a Mônica, nos quadrinhos, estar meio de asinha
caída para o Luca”. Nas histórias de Luca, em certos momentos, são mostradas
algumas situações em que ele encontra dificuldades para se locomover, como, por
exemplo, em calçadas esburacadas, falta de rampas em prédios ou casas e em
veículos coletivos sem condições de receber alguém que utilize uma cadeira de
rodas, problemas típicos de cadeirantes na vida real.
André é autista e o mais novinho
dentre eles. Tem quatro anos, é muito divertido e engraçado. Ele foi muito bem
recebido pela Turma e faz coisas melhores do que as crianças de sua idade, tem
um interesse incrível pelas coisas e quase não fala. Isso fez com o que o
Cebolinha o achasse meio estranho no início. Maurício explica que “o André
nasceu de um estudo que fizemos para uma campanha. Saiu uma revistinha muito
gostosa, que serviu e serve para muita gente entender um pouco melhor o autismo
e suas diversas manifestações”. Seu nome verdadeiro é André Khoury Correia
Sampaio Júnior. Finalmente, temos Tatiana, ou simplesmente Tati, uma garotinha
de oito anos com Síndrome de Down. Maurício admite que Tati é pouco conhecida e
ainda não muito utilizada nas histórias. “Ela está ainda em fase de estudos,
devido à variação de graduações que o Down apresenta. Ainda estou buscando em
que nível está a menina”, disse. Quase sempre, ela aparece com Dorinha e Luca,
combatendo o preconceito. Seus olhos são dois pontinhos e a cor do seu cabelo
varia muito, podendo ser ruivo ou castanho. Sua roupa também muda bastante e
ela aparece, constantemente, na escola. Raramente, Tati é vista no Bairro do
Limoeiro.
Gabriela Lopes de Sousa, pedagoga
formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), disse que utilizou bastante
os vídeos da Turma da Mônica quando trabalhou no Instituto da Primeira Infância
(Iprede) e que as crianças adoraram as histórias. “Criança é muito observadora
e sempre questiona tudo. As histórias se tornam um portal para conversarmos
sobre todos os assuntos”, afirmou. Gabriela conta que as crianças relacionam os
personagens com amiguinhos seus e fazem comparações entre as atitudes da
Mônica, por exemplo, e a de seus amigos. “É legal porque aí nós podemos
discutir de maneira mais concreta. Conversamos sobre a força da Mônica, se ela
deveria resolver tudo na violência e debatemos assuntos atuais”. A psicóloga
Ana Beatriz Thé Praxedes acredita que as personagens criadas por Maurício de
Sousa têm a importância de fazer as crianças compreenderem que existem crianças
com deficiência e outras sem. “Pedagogicamente falando, as personagens ajudam a
preparar as crianças a conviver com as diferenças significativas”, disse
Beatriz, que é cadeirante.
Atualmente, Gabriela trabalha como
professora concursada da Prefeitura de Maracanaú, município da Região
Metropolitana de Fortaleza, distante 18km da capital, com crianças de 4 a 5 anos.
“Estou aqui há pouco tempo e ainda não tive chance de começar a trabalhar com
elas utilizando as histórias. Porém, para o segundo semestre, vou estudar uma
maneira de incluí-las no currículo, inclusive essas com deficiência. Acredito
ser muito importante, pois criança, se orientada no caminho certo, evolui”,
concluiu.
Serviço: as falas do cartunista Maurício de Sousa
foram retiradas de uma entrevista dada por ele ao repórter Daniel Limas, do
site Vida Mais Livre (http://www.vidamaislivre.com.br/).
Site oficial da Turma da Mônica – http://turmadamonica.uol.com.br/
Site oficial da Fundação Dorina Nowill – http://www.fundacaodorina.org.br/
Conheça o Iprede – http://www.iprede.org.br/
Fonte: http://www.sembarreiras.jor.br/2014/07/03/turma-da-monica-possui-personagens-com-deficiencias/
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