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Paulo Freire

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Turma da Mônica possui personagens com deficiências


       Turma da Mônica possui personagens com deficiências




Humberto é um dos personagens mais antigos da Turma e é surdo, comunicando-se com gestos e ‘hum hum hum’
“Baixinha, golducha e dentuça”. Essas palavrinhas remetem imediatamente a uma menininha de vestidinho vermelho, dentuça, empunhando um coelhinho azul de pelúcia, encaldido, correndo atrás de uma série de garotos, principalmente um de cabelo espetado e roupa verde (ou melhor, velde) e outro todo sujinho para lhes acertar várias coelhadas. Quem teve sua infância a partir das décadas de 70 e 80 sabe que esses personagens são Mônica, Cebolinha e Cascão, respectivamente, a famosa Turma da Mônica (clique aqui), criação do jornalista e cartunista Maurício de Sousa. Uma das maiores referências em literatura infantil do Brasil, as histórias nasceram em 1959, quando Maurício era repórter policial do jornal Folha da Manhã (atual Folha de São Paulo), em forma de tirinhas com Franjinha e seu cachorro Bidu. A partir dos anos 70, começaram a surgir comerciais e revistas com Mônica e Cebolinha, agora os novos protagonistas. Mônica, a dona da lua, como diria Cebolinha, foi inspirada na filha de Maurício, de mesmo nome.
Desde 1970, a série já foi publicada por diversas editoras, como a Abril (1970-1986), a Globo (1987-2006) e, desde 2007, vem sendo publicada pela Panini Comics. A primeira edição, em 1970, teve 200 mil exemplares. A Turma da Mônica se transformou em um estrondoso sucesso, com suas histórias chegando a cerca de 30 países e representando 86% das vendas de revistas no mercado brasileiro. Vários outros personagens surgiram, como o já citado Cascão, a comilona Magali, o original Franjinha permaneceu, o também dentuço Titi e sua namorada Aninha, o negro Jeremias, dentre outros. Maurício expandiu as histórias, todas conectadas com a Turma original, surgindo assim a Turma do Chico Bento, que se passa na roça, da adolescente Tina, do Penadinho, do Bidu, só com animais, do Horacio (supostamente um alter ego do autor), do Piteco na Idade da Pedra, e várias outras. Surgiu ainda a Turma da Mônica Jovem, com os personagens adolescentes e não com oito anos. Em 2012, foi lançada edição especial sobre acessibilidade (faça o download aqui). As histórias saíram das revistas e ganharam o cinema, os vídeo games, desenhos animados, músicas e emprestaram o nome para diversos produtos, inclusive alimentícios. Quem não se lembra do extrato de tomate com o personagem Jotalhão?

Tati (à esq) tem Síndrome de Down e conversa com Dorinha na escola
As histórias da Turma da Mônica se passam no fictício Bairro do Limoeiro e falam, acima de qualquer coisa, da amizade entre os personagens. Apesar das brigas e das provocações que ela sofre dos meninos, sempre criando planos para derrotá-la, são todos muito amigos e companheiros. Essas histórias também sempre abordaram temas atuais, com mensagens educacionais e de respeito ao meio-ambiente e à natureza, além de campanhas de saúde. Assim sendo, o tema deficiência não poderia ficar de fora. “Todos nós temos amigos com algum tipo de deficiência e convivemos harmônica e dinamicamente. Aprendemos as regras da inclusão aí. Consequentemente, não poderíamos deixar de apresentar amiguinhos da turma que também tivessem algum tipo de deficiência”, afirmou Maurício. Dentre os personagens originais, criados na década de 60, já havia um deficiente auditivo, Humberto, que se comunica com os coleguinhas através de “hum hum hum”, daí seu nome Humberto, ou por linguagem gestual. Em 2004, surgiram mais dois, Dorinha e Luca.
Dorinha é cega e seu nome foi uma homenagem à Dorina Nowill, fundadora da Fundação Dorina Nowill (acesse aqui) que, há mais de 60 anos, atua na inclusão de pessoas com deficiência visual. Segundo Maurício, a repercussão em torno da personagem foi das melhores. “Principalmente, quando a Dorinha, como personagem vivo, no antigo Parque da Mônica, aparecia. Daí era um auê. Todas as crianças se aproximavam dela para perguntar sobre seus hábitos, como fazia isso, como resolvia aquilo. E nossa artista que dava vida à Dorinha estava sempre muito bem preparada para falar como uma deficiente bem resolvida”, contou. Ela possui um cão guia chamado Radar e usa uma bengala. A personagem é bastante extrovertida, bonita, fashion, com um corte de cabelo moderno, óculos escuros e logo faz amizade com a turminha e decide brincar normalmente como qualquer criança, surpreendendo os amiguinhos através de suas habilidades e sentidos aguçados como o tato, a audição e o olfato. Seu nome verdadeiro é Doralice Azevedo Lúcia e tem sete anos.

Histórias do Luca abordam dificuldades na vida dos cadeirantes e dão dicas de soluções
No mesmo ano de 2004, junta-se à Turma o personagem Luca. Ele é cadeirante e amante dos esportes, principalmente basquete. Ele foi apelidado pelos amiguinhos de “Da Roda” ou “Paralaminha”, pois é muito fã do cantor Herbert Viana e da Banda Paralamas do Sucesso. “Para criar o Luca, conversei com os atletas paraolímpicos, o que foi, para mim, uma descoberta e uma alegria. Eles são muito bem resolvidos, também. Entusiasmados, alegres, espertos, inteligentes, com o moral lá em cima. Foi fácil transpor esse clima para o personagem, que continua acontecendo muito fortemente nas nossas histórias, a ponto de a Mônica, nos quadrinhos, estar meio de asinha caída para o Luca”. Nas histórias de Luca, em certos momentos, são mostradas algumas situações em que ele encontra dificuldades para se locomover, como, por exemplo, em calçadas esburacadas, falta de rampas em prédios ou casas e em veículos coletivos sem condições de receber alguém que utilize uma cadeira de rodas, problemas típicos de cadeirantes na vida real.
André é autista e o mais novinho dentre eles. Tem quatro anos, é muito divertido e engraçado. Ele foi muito bem recebido pela Turma e faz coisas melhores do que as crianças de sua idade, tem um interesse incrível pelas coisas e quase não fala. Isso fez com o que o Cebolinha o achasse meio estranho no início. Maurício explica que “o André nasceu de um estudo que fizemos para uma campanha. Saiu uma revistinha muito gostosa, que serviu e serve para muita gente entender um pouco melhor o autismo e suas diversas manifestações”. Seu nome verdadeiro é André Khoury Correia Sampaio Júnior. Finalmente, temos Tatiana, ou simplesmente Tati, uma garotinha de oito anos com Síndrome de Down. Maurício admite que Tati é pouco conhecida e ainda não muito utilizada nas histórias. “Ela está ainda em fase de estudos, devido à variação de graduações que o Down apresenta. Ainda estou buscando em que nível está a menina”, disse. Quase sempre, ela aparece com Dorinha e Luca, combatendo o preconceito. Seus olhos são dois pontinhos e a cor do seu cabelo varia muito, podendo ser ruivo ou castanho. Sua roupa também muda bastante e ela aparece, constantemente, na escola. Raramente, Tati é vista no Bairro do Limoeiro.
Gabriela Lopes de Sousa, pedagoga formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), disse que utilizou bastante os vídeos da Turma da Mônica quando trabalhou no Instituto da Primeira Infância (Iprede) e que as crianças adoraram as histórias. “Criança é muito observadora e sempre questiona tudo. As histórias se tornam um portal para conversarmos sobre todos os assuntos”, afirmou. Gabriela conta que as crianças relacionam os personagens com amiguinhos seus e fazem comparações entre as atitudes da Mônica, por exemplo, e a de seus amigos. “É legal porque aí nós podemos discutir de maneira mais concreta. Conversamos sobre a força da Mônica, se ela deveria resolver tudo na violência e debatemos assuntos atuais”. A psicóloga Ana Beatriz Thé Praxedes acredita que as personagens criadas por Maurício de Sousa têm a importância de fazer as crianças compreenderem que existem crianças com deficiência e outras sem. “Pedagogicamente falando, as personagens ajudam a preparar as crianças a conviver com as diferenças significativas”, disse Beatriz, que é cadeirante.
Atualmente, Gabriela trabalha como professora concursada da Prefeitura de Maracanaú, município da Região Metropolitana de Fortaleza, distante 18km da capital, com crianças de 4 a 5 anos. “Estou aqui há pouco tempo e ainda não tive chance de começar a trabalhar com elas utilizando as histórias. Porém, para o segundo semestre, vou estudar uma maneira de incluí-las no currículo, inclusive essas com deficiência. Acredito ser muito importante, pois criança, se orientada no caminho certo, evolui”, concluiu.
Serviço: as falas do cartunista Maurício de Sousa foram retiradas de uma entrevista dada por ele ao repórter Daniel Limas, do site Vida Mais Livre (http://www.vidamaislivre.com.br/).
Site oficial da Turma da Mônica – http://turmadamonica.uol.com.br/
Site oficial da Fundação Dorina Nowill – http://www.fundacaodorina.org.br/
Conheça o Iprede – http://www.iprede.org.br/


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